domingo, 9 de março de 2008

PALMEIRIM DE INGLATERRA

Este é o romance de cavalaria mais famoso, publicado no século XVI. É seu autor FRANCISCO DE MORAIS, que o editou na cidade de Évora em 1567, nos prelos de André de Burgos. Era tão alto o valor em que era tido que CERVANTES, no seu D. Quixote se lhe refere nos seguintes termos : “…e essa palma de Inglaterra se guarde e conserve como coisa única e se faça para ela outro cofre, como o que achou ALEXANDRE nos despojos de DARIO, que o destinou para nele se guardarem as obras do poeta HOMERO. Este livro, senhor compadre , tem autoridade por duas coisas: primeiro, porque é de si muito bom; segundo, por ter sido seu autor um discreto Rei de Portugal” (1). Talvez, por isso, MANUEL FARIA Y SOUSA escreveria mais tarde :…” o Palmeirim de Inglaterra, escrito por FRANCISCO DE MORAES, no tempo de D. João III, obra que alguns acreditaram ser do Rei D. João II “.(2)
Na verdade, Francisco de Morais viveu no tempo de D. João III, foi amigo íntimo do conde de Linhares, D. Francisco de Noronha, acompanhando-o como seu secretário particular, quando este em 1540 foi nomeado embaixador português em França. E aí permaneceu vários anos . Em Paris enamorou-se de uma donzela, de nome Torsy, como resulta dos DIÁLOGOS, publicados, postumamente, em 1624.
Hoje , é pacífica, a atribuição da autoria do PALMEIRIM DE INGLATERRA a Francisco de Morais. Sobretudo, depois de WILLIAM EDWARD PURSER, em 1904, o ter demonstrado ,sem margem para dúvidas, na sua obra “ Palmeirim of England: Some remarks on this romance and controversy concerning its author ship,- Dublin.”. Mas já em 1807, ROBERT SOUTHEY, no prefácio da sua tradução do original português para inglês, defende a tese da autoria portuguesa daquela celebérrima obra.. Um dos argumentos por ele esgrimidos , em defesa da autoria portuguesa, prende-se com o facto de parte da acção se desenrolar no castelo de ALMOUROL, no rio Tejo.(3)
A controvérsia sobre a autoria da obra em causa resulta do facto de, em 1547 , ter sido publicada em Toledo,em Espanha, a obra “ Libro del muy efforçado cavallero Palmerin de Inglaterra hijo d’elrey don Duardos “. Isto é, vinte anos antes da edição portuguesa. Salvá atribuía a sua autoria a Miguel Ferrer ou Luís Hurtado, não passando a edição portuguesa de uma versão da castelhana ( 4). Mas a tese da autoria portuguesa ainda se tornava mais difícil de sustentar , face à existência de uma edição francesa de 1553, saída dos prelos da cidade de Lião e outra italiana . publicada em Veneza, em 1555.
Para ROBERT SOUTHEY , não é caso único as traduções saírem à luz do dia antes do próprio original. Para este autor , a intrinsecidade do PALMEIRIM DE INGLATERRA evidencia que o seu autor é português e este é FRANCISCO DE MORAES (5).
Um século mais tarde, autores como MENENDEZ Y PELAYO, o já citado PURSER, MENDES DOS REMÉDIOS, FIDELINO DE FIGUEIREDO e AUBREY BELL, entre outros, arrumaram definitivamente a questão, .a favor nosso FRANCISCO DE MORAIS.(6).
Houve até quem colocasse a dúvida sobre se a edição francesa teria alguma vez existido. FRANCISCO LEITE DE FARIA escreveria em 1977: “ Sobre a suposta ed. anterior, impressa na França ou em Flandres, nada sabemos dizer e duvidamos até de que tenha existido” (7).
È pena que aquele incansável investigador já não pertença ao mundo dos vivos, porque teria oportunidade de varrer aquela dúvida É que a edição francesa não só existiu, como ainda dela existe um exemplar, pelo menos , que se encontra em magnífico estado de conservação, adquirido a um alfarrabista holandês .
Esposende, 10 de Março de 2008
Francisco Marques






NOTAS:
(!)-CERVANTES, EL INGENIOSO HIDALGO DON QUIXOTE DE LA MANCHA, MADRID,1787 TOMO I, pag. 57
(2)-MANUEL FARIA Y SOUSA, EUROPA PORTUGUESA,1680, TOMO III,pag. 372;
(3)- ROBERT SOUTHEY, PALMERIN OF ENGLAND,1807,vol.I,pag.xv;
(4)- D.PEDRO SALVÁ Y MALLEN,CATALOGO DE LA BIBLIOTECA DE SALVÁ, 1872,TOMO II,pag.84 e segs.;
(5)-ROBERT SOUTHEY, idem et ibidem;
(6)-D. MANUEL II,LIVROS ANTIGOS PORTUGUESES,vol.II, pag.757;
(7)-FRANCISCO LEITE DE FARIA,ESTUDOS BIBLIOGRÁFICOS SOBRE DAMIÃO DE GÓIS E A SUA ÉPOCA,pag.241.

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