sábado, 30 de janeiro de 2021

LARGO DOUTOR ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO

< LARGO DO DOUTOR ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO Na toponímia da cidade de Lisboa, há um largo com o nome Largo do Doutor António de Sousa de Macedo. Embora já por lá tenha passado, nas minhas andanças pela capital, nunca reparei no nome desse largo. Não fora um trabalho, vindo a lume na “E Revista do Expresso”, de 8 de Janeiro de 2021,e eu continuaria a desconhecer o nome daquele largo. O título do trabalho é O FADO DO DOUTOR ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO- O médico erudito que escreveu um poema mitológico intitulado “ Ulissipo” não passava de um ilustre desconhecido. Até que Alberto Manguel decidiu morar no largo a que ele deu o nome em Lisboa” . O que, no mencionado artigo, me despertou imediatamente a atenção foi dizer-se que António de Sousa de Macedo era médico e desconhecido. Desconhecido do autor do texto não me surpreende, porque se trata de uma pessoa que não é portuguesa e, por consequência, não tem que ter conhecimentos da cultura portuguesa; mas já fico surpreendido que outros não saibam quem, verdadeiramente, foi o Doutor António de Sousa de Macedo! O mencionado artigo, para mim, foi-me muito útil. Eu explico: A primeira coisa que fiz, ao ler o título, foi ir à estante da minha biblioteca buscar aquela obra, cujo verdadeiro título é ULYSSIPPO POEMA HEROICO. Impresso em Lisboa por Antonio Alvarez, em 1640. Depois, foi ir ao computador, onde se encontram registados todos os livros que possuo, a fim ver quais as obras que tinha, das muitas por ele escritas. Constato, então, que o poema não fazia parte das registadas em seu nome. O que me deixou deveras surpreendido. Depois de muito trabalho, lá consegui localizá-la, atribuída a um Sousa Machado. Embora em último lugar, como a ordem alfabética impõe, já integra a lista das obras do Doutor António de Sousa de Macedo, existentes na minha biblioteca. Entre elas, conta-se DECISIONES SUPREMI SENATUS IUSTITIAE LUSITANIAE, ET SUPREMI CONSILII FISCI, ac patrimonii Regis. Ulissippone, Henrique Valente de Oliveira, 1660. Na verdade, o Doutor António de Sousa de Macedo, não foi médico. Depois de ter feito os estudos preparatórios no Colégio de Santo Antão, Macedo ingressou na Universidade de Coimbra, onde cursou Direito. Acabado o curso, foi, posteriormente, nomeado desembargador da Casa da Suplicação. Se alguma influência, as ideias ou doutrina do Doctor Eximius exerceram sobre Macedo, só através das suas obras, porque, quando o ilustre professor coimbrão, Francisco Suárez, faleceu – 25 de Setembro de 1617,às sete horas, na casa dos jesuítas em S. Roque- António de Sousa de Macedo tinha apenas 10 anos de idade, uma vez que nasceu, a 15 de Dezembro de 1606, na cidade do Porto. Depois da Restauração, acompanha, como seu secretário, um dos QUARENTAS CONJURADOS de 1640, D. Antão de Almada, que vai para Londres, com a difícil, mas importantíssima missão de convencer o rei de Inglaterra a reconhecer D. João IV como rei de Portugal independente. Poucos dias antes do glorioso 1º de Dezembro, havia saído dos prelos de António Álvares aquele seu poema, em 14 cantos, pois as licenças estão datadas de 30 e 31 de Outubro. Mas, já em 1631, havia publicado, em Lisboa, FLORES DE ESPAÑA EXCELENCIAS DE PORTUGAL, obra redigida em castelhano; o que era frequente naquela altura. Em Londres desde 1641, publica nessa cidade, em 1642, a sua obra JUAN CARAMUEL LOBKOVITZ, também em castelhano, que dedica a Don Antão d’Almada. Nela refuta aquele monge cisterciense, que, em 1639, havia publicado, em Antuérpia, o seu PHILIPPUS PRUDENS, onde defende a legitimidade do rei de Espanha à coroa portuguesa. Nessa obra aparecem, em gravura de página inteira, todos os reis de Portugal e os três Filipes. No ano seguinte, publica, também naquela cidade, GENEALOGIA REGUM LUSITANIAE, que dedica ao príncipe herdeiro, D. Teodósio, servindo-se da língua latina. Em 1645, faz sair dos prelos de Londres a sua famosa obra LUISTANIA LIBERATA, onde, ao longo das 794 páginas de um in-fólio, faz a defesa histórico-jurídica do direito de D. João IV à coroa portuguesa. A obra vem adornada de várias gravuras de página inteira, aparecendo a primeira no anterrosto, onde ostenta a efígie de D. João IV. O texto da obra é precedido de uma maravilhosa gravura, representando a LUSITANIA, sentada sobre o globo, tendo, na mão direita, o ceptro e, na esquerda, a bandeira nacional. Outra gravura interessante, de página inteira, como todas, é a alusiva ao milagre que, segundo a lenda, precedeu a batalha de Ourique, isto é, o aparecimento de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques, prometendo-lhe que venceria os muçulmanos. Também é de salientar a gravura que mostra D. João IV sentado no trono, ladeado por duas figuras, representando a Justiça, uma, e a outra a Paz, as quais suspendem sobre a cabeça do monarca a coroa real. Para além de várias outras, também deve ser referida a que representa o rei a cavalo, à frente do exército, combatendo os castelhanos. A obra está recheada de citações histórico-jurídicas, não se esquecendo o autor de, logo no início do primeiro proémio, citar Camões, a quem chama Homero Lusitano ou Virgílio Cristão ( Lusitanus Homerus sive Christianus Virgilius) Em 1651, ano em que vai para a Holanda como embaixador de Portugal, publica em Haia do Conde, na oficina do inglês Samuel Broun, a sua obra HARMONIA POLÍTICA, escrita em bom português, que dedica ao príncipe herdeiro D. Teodósio, que morrerá dois anos depois. Na carta nuncupatória, escreve: “ Não escrevo só por liçam, ou só por experiencia: mas juntamente pello que li e pello que experimentei; nas embaxadas que tive a meu cargo vi e pratiquei os negocios mais graves que em Europa se offereceram nestes onze annos depois da Restituiçam de sua Magestade a sua Coroa; annos mais notáveis que muitos seculos”. Nesta obra, o doutor António de Sousa de Macedo disserta sobre as virtudes ou qualidades, que devem ornar um príncipe herdeiro do trono, socorrendo-se de exemplos de anteriores reis de Portugal. Em 1676, publica, em Lisboa, EVA e AVE, ou MARIA TRIUNFANTE e, em 1682, ano da sua morte, faz sair dos prelos de Miguel Deslandes, DOMINIO SOBRE A FORTUNA E TRIBUNAL DA RAZAÕ, obra que escreveu para os seus netos, como o próprio autor fez questão de consignar: “ O Autor a seus netos para quem escreueo” . Estas duas obras foram publicadas, num só volume, por várias vezes, no século XVIII. Muitas outras obras foram escritas por António de Sousa de Macedo. Limitei-me a mencionar as existentes na minha biblioteca. Respigando a revista O PANORAMA, deparei-me com este texto : “ começando no celebre Antonio de Sousa de Macedo, tão conhecido por consumado politico como por grande jurisconsulto e literato, de quem impressas correm muitas e importantes obras. “Todos sabem que este douto varão foi ministro de Portugal em Inglaterra, no tempo d’elrei D. joão IV e durante a revolução que levou ao cadafalso o infeliz Carlos 1º; e que foi secretario d’estado do senhor D. Afonso VI; mas o que muitas pessoas ignoram é que seu filho, Luis Gonçalo de Sousa de Macedo, 1º barão da Ilha Grande, de quem seu pai era donatario, foi creado 1º barão de Molingaria, por mercê especial de Carlos 2º d’Inglaterra, para elle e para todos os seus legítimos descendentes, herdeiros da sua casa, perpetuamente, por carta passada em 28 de Junho de 1661, cujo original vimos escripto em pergaminho, na língua latina, com selo real pendente; e isto em contemplação e reconhecimento aos grandes serviços que praticou, e arriscados perigos de vida a que se expos o dito seu pae, Antonio de Sousa de Macedo, para sustentar os direitos da corôa britânica, e para defender o desventurado Carlos 1º, junto a quem estava acreditado como ministro de Portugal durante a revolução ( Ano de 1840, Volume Quarto, pág.326-7). Já no século XX, Fidelino de Figueiredo escreverá: “ Macedo foi um dos mais úteis obreiros da consolidação do trono de D. João IV, como diplomata, como homem de govêrno e como homem de pena”( História da Literatura de Portugal, Nobel, Coimbra, pág.251). Na verdade, o Doutor António de Sousa de Macedo foi um prolífico escritor, mas, sobretudo, um estrénuo defensor dos direitos de D. João IV ao trono de Portugal e da independência de Portugal