quarta-feira, 17 de junho de 2009

O RIO AVE

A linda Vila das Aves devia chamar-se Vila dos Aves - rio Ave e rio Avezinho ou Vizela. Mas a origem popular do nome foi determinante para aquela denominação. Assim como também o foi para o nome do rio Ave. Pois, se a origem etimológica daquele vocábulo tivesse seguida a via erudita o seu nome era Avo e não Ave. Aliás, Duarte Nunes de Leão, na sua Descrição do Reino de Portugal, publicada em 1610, refere-se ao rio nestes termos: " O rio Avo também começa perto donde acaba...", fl.37.No entanto, frei Bernardo de Brito, na sua Geographia Antiga de Lusytania, editada em 1597, chama-lhe rio Ave.E este nome foi o que ficou.Mas o seu étimo latino não é a palavra auus -aui , mas auis-auis . Só assim se explica que ao rio pequeno lhe chamassem auicella- avezinha. Pois auicella,diminuitivo de auis, é o étimo latino de Vizela.É verdade que em Ptolomeu aparece-nos Avus. Mas não podemos esquecer que Ptolomeu escreveu em grego.Pompónio Mela , nascido na Hispânia no primeiro século da nossa era , refere-se ao rio Ave nestes termos :"fluuntque per eos Auo,Celandus,Nebis,Minius, et cui obliuionis cognomen est Limia"( De Orbis Situ,III, I.)Desta passagem facilmente se infere que , para Pompónio Mela, Auo não provem da palavra auus; pois, se assim fosse, teria escrito Auus e não Auo. Isto é, teria colocado a pavra no nominativo, como estão todas as outras : Celandus, Nebis, Minius e Limia. Por isso, para aquele escritor romano era óbvio que Auo não tinha nada a ver com Auus. Por ter também esse entendimento é que Frei Pedro de Poyares, no seu Diccionario Lusitanico-Latino, publicado em 1667, escreve " Aue , rio de Portugal - Auus-ui ; Auo- uonis", (pág. 51). Por assim entender é que, certamente, Duarte Nunes de Leão lhe chama Avo e não Ave. Por isso, se a formação da palavra tivesse seguido a via erudita, o rio chamar-se-ia Avo e não Ave. Só que hoje não tínhamos Vila das Aves, nem Vizela.

Francisco Marques