sábado, 6 de abril de 2013

DIOGO DE SÁ


 

                                    D I O G O    DE   S Á

 

 

 

68 – DE  NAUIGATIONE  LIBRI  TRES : QUIBUS  MATHEMATICAE DISDIPLINAE EXPLICANTUR : AB IACOBO À SAA EQUITE LUSITANO  NUPER IN LUCEM EDITI.  PARISIIS.  EX OFFICINA REGINALDI CALDERII , & CLAUDII EIUS FILII. 1549. CUM PRIVILEGIO REGIS. 

 

 

69 -  DE  PRIMOGENITURA  TRACTATUS SUPER DIFFICILI & SATIS TRACTATA QUAESTIONE PER ANTIQUOS & NEOTERICOS DOCTORES, NA FILIUS SECUNDOGENITUS PRAEFERENDUS SIT NEPOTI EX PRIMOGENITO MORTUO, VIVENTE AVO. ET NOVITER STANTE DISPOSITIONE LEGIS MENTALIS LUSITANIAE, QUIS EORUM SIT PRAEFERENDUS, AB IACOBO ASAA EQUITE LUSITANO NUPER IN LUCEM EDITUS.  PARISIIS,  APUD MARTIN UM IUUENEM, SUB INSIGNI D. CHRISTOPHORI. CUM PRIVILEGIO REGIS. 1551.

 

    Estas duas obras tão distintas  -  uma sobre a navegação e a matemática e outra sobre o direito de família – , ambas impressas em Paris, foram escritas por Diogo  de  Sá. Quem foi Diogo de Sá?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    O grande João Pinto Ribeiro, um dos conjurados de 1640, que foi Juiz de Fora em Ponte de Lima e em Pinhel, Desembargador do Paço e Guarda-Mór da Torre do Tombo, na sua obra “  Preferencia das letras às armas “, publicada em Lisboa por Paulo Craesbeeck, em 1645, escreve:

  Quem mais conhecido por seus escritos, que Diogo de Saa? Diga-o o seu livro de primogenitura, diga-o o de navigatione, impressos em Paris ; este no anno de 1549 , aquele no de 1552( desconhecia a 1ª edição). Achase em seu principio huma carta de Antonio Paes portuguez, em que testemunha deverse ao valor deste varão douto aquella grande victoria, que vinte Gallès Portuguesas  alcançaraõ em Chaul  de settenta e tres do grão Turco.Não o retardaraõ  as letras nesta empresa, mas aplicando às penas das sciencias as armas, fez que, propondo-se premio a primeira gallè, que tomasse terra do inimigo, voasse a sua , & o ganhasse. Em Baçaim, a quem defendiaõ dez mil Turcos com grande com grande copia de artilheria, & petrechos militares, dar elle a morte por sua mão ao Capitão Turco, foy causa que trezentos Portugueses tivessem daqueles inimigos hum glorioso vencimento. Testemunho foy de seu valor a Ilha de Beth, chamada dos mortos, por morrerem alli à mão do Portuguezes os muytos Turcos, que nella alojavaõ. Com sua industria  se abrazaraõ em Choromandel dous lugares, e foraõ rendidas doze Naos de turcos, que alli andavaõ infestando a nova Christandade. Taes proezas obrou em doze anos, que naquelas partes militou”. (Obras Varias compostas pelo Doutor João Pinto Ribeyro, do Conselho de Sua Magestade, e Dezembargador do Paço. Parte Segunda. Em Coimbra, Na Officina de Joseph Antunes da Sylva, M.DCCXXX,pág. 188-9).

   É óbvio que os factos descritos não se encontram na mencionada carta  - que já não vem na edição de 1606.Mas João Pinto Ribeiro tinha conhecimento dos mesmos e sabia que Diogo de Sá havia estado doze anos na Índia e, da forma como o refere, infere-se que terá sido num único período, isto é, que permaneceu no Oriente doze anos consecutivos . Ora, Gaspar Correia refere que, no ano de 1517, se encontrava na Índia “Diogo de Sá, moço da camara d’ElRey, em huma barcaça”( Lendas da Índia, Livro II, Tomo II-Parte II,1861, pág.488). E este autor fica-se por esta referência a Diogo de Sá, moço de câmara do rei e capitão de uma barcaça. João de Barros, por sua vez, escreve: “ … que mandasse fazer a fortaleza de Sunda; pelo que Lopo Vaz lhe mandou aprestar logo huma Armada de seis vélas, de que eram dous galeões, em hum dos quais hia Francisco de Sá, e D. Jorge Tello de Menezes no outro, e Diogo de Sá em huma galé, Antonio de Sá em huma galeota, e Francisco Mendes de Vasconcellos em huma caravella, e Duarte Coelho em hum bargantim” ( Quarta Decada da Asia. Madrid, MDCXV, pág. 44). E Fernão Lopes de Castanheda  também a ele se refere nesta passagem da sua obra :” Jorge de Lima, Lionel de melo, Fernão de lima, Diogo de sá & dom Miguel de linma que todos eraõ  muy esforçados, & nesta guerra  fizeraõ feytos de muy assinada valentia & mataraõ muytos mouros”( Historia do Descobrimento  e Conquista da India pelos Portugueses, Livros V,VI,VII,VIII e IX, Lello & Irmão,1979, págf.280)

 

 

 

    Os factos que se deixam descritos ocorreram nos anos de 1526 e 1525. O que demonstra que Digo de Sá ainda se encontrava ao serviço do rei na Índia. Os citados cronistas não se referem em qualquer outra parte das suas obras a Diogo de Sá. Não será despiciendo lembrar que o mencionado António de Sá era de Santarém e, em 1504, foi nomeado feitor de Cochim, segundo escreve Castanheda na citada página e Francisco de Sá era do Porto, filho do segundo João Rodrigues de Sá, alcaide-mór daquela cidade e senhor de Matosinhos e das terras de Sever, Baltar e Paiva, segundo Diogo do Couto -  que nunca se refere a Diogo de Sá (Decada Quarta da Asia, Pedro Crasbeeck,no Collegio de Santo Agostinho,Anno MDCII,fól.5). Será Diogo de Sá irmão de Francisco de Sá? Ou entroncarão ambos no primeiro João Rodrigues de Sá? Em vez de irmãos, serão primos? Os genealogistas que se ponham em campo. Certamente, quer um quer outro, são primos do Poeta do Neiva!

     Do que parece não haver dúvidas é que esteve doze anos na Índia, como nos informa o ilustre conjurado de 1640.Se, em 1517, era ainda moço, isso significa que deveria ter chegado à India há muito pouco tempo. E, se andou por lá doze anos, deve ter regressado antes de 1530. Aquele que alguns lhe apontam como pai – Fernão Eanes Sottomayor – foi na armada de Martim Afonso de Sousa, em 1534, e com ele embarcou também Garcia d’Orta. Com Fernão Eanes Sottomayor devem ter embarcado os dois filhos, António de Sottomayor e Diogo Reynoso, aos quais, e nessa qualidade, se referem com frequência, João de Barros, Gaspar Correia e Diogo do Couto. O Diogo Reynoso morreu no dia de S. Lourenço, a 10 de Agosto de 1546, no segundo cerco de Diu, na explosão do baluarte de S. João, em que se salvou “ dom Diogo de Souto Maior, que voando polo ar com a força do fogo cayo dentro na fortaleza com uma lança nas mãos por que veyo escorregando ate o chão onde ficou, sem lesão alguma” como narra Diogo do Couto, na sua Década Sexta (Pedro Crasbeeck,1614, fól.39). Não é de crer que o Diogo que morreu fosse irmão do Diogo que se salvou! Ou que Fernão Eanes Sottomayor tivesse dois filhos com o nome de Diogo! Já agora também se faz constar que o outro António de Sá, conhecido pelo Rume, de que falam os nossos cronistas do Oriente, era moço de câmara de D. Manuel e, em 1502, na viagem para a Índia, foi armado cavaleiro pelo Almirante dom Vasco da Gama ( João de Barros, Decada Primeira da Asia, Jorge Rodrigues, 1628, fól.116). Por isso, quer um, quer outro, não podem ser filhos de Fernão Eanes Sottomayor, como se pretende fazer crer. E, dada a grande diferença de idade que devia existir entre os dois António de Sá e Diogo de Sá, tendo em conta os factos que a seu respeito se deixam narrados, também este não era, com toda a certeza, irmão de qualquer deles. Nem o acima referido Diogo de Souto Maior, que se salvou no segundo cerco de Diu, pode ser o Diogo de Sá, autor dos mencionados livros, pois que três anos após aquele grande evento bélico, estava a publicar em Paris o” De Navigatione Libri Tres”! Aliás, quando o aludido Fernão Eanes Sottomayor, embarca para a Índia em 1534, na armada de Martim Afonso de Sousa, Diogo de Sá, tudo indica, já tinha regressado daquelas paragens há vários anos.

 

 

 
FRANCISCO  MARQUES

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