D I O G O DE S Á
68 – DE
NAUIGATIONE LIBRI TRES : QUIBUS
MATHEMATICAE DISDIPLINAE EXPLICANTUR : AB IACOBO À SAA EQUITE
LUSITANO NUPER IN LUCEM EDITI. PARISIIS.
EX OFFICINA REGINALDI CALDERII , & CLAUDII EIUS FILII. 1549. CUM
PRIVILEGIO REGIS.
69 -
DE PRIMOGENITURA TRACTATUS SUPER DIFFICILI & SATIS
TRACTATA QUAESTIONE PER ANTIQUOS & NEOTERICOS DOCTORES, NA FILIUS SECUNDOGENITUS
PRAEFERENDUS SIT NEPOTI EX PRIMOGENITO MORTUO, VIVENTE AVO. ET NOVITER STANTE
DISPOSITIONE LEGIS MENTALIS LUSITANIAE, QUIS EORUM SIT PRAEFERENDUS, AB IACOBO
ASAA EQUITE LUSITANO NUPER IN LUCEM EDITUS.
PARISIIS, APUD MARTIN UM IUUENEM,
SUB INSIGNI D. CHRISTOPHORI. CUM PRIVILEGIO REGIS. 1551.
Estas duas obras tão distintas
- uma sobre a navegação e a
matemática e outra sobre o direito de família – , ambas impressas em Paris,
foram escritas por Diogo de Sá. Quem foi Diogo de Sá?
O
grande João Pinto Ribeiro, um dos conjurados de 1640, que foi Juiz de Fora em
Ponte de Lima e em Pinhel, Desembargador do Paço e Guarda-Mór da Torre do
Tombo, na sua obra “ Preferencia das
letras às armas “, publicada em Lisboa por Paulo Craesbeeck, em 1645, escreve:
“ Quem mais conhecido por seus escritos, que
Diogo de Saa? Diga-o o seu livro de primogenitura, diga-o o de navigatione,
impressos em Paris ; este no anno de 1549 , aquele no de 1552( desconhecia a 1ª
edição). Achase em seu principio huma carta de Antonio Paes portuguez, em que
testemunha deverse ao valor deste varão douto aquella grande victoria, que
vinte Gallès Portuguesas alcançaraõ em
Chaul de settenta e tres do grão
Turco.Não o retardaraõ as letras nesta
empresa, mas aplicando às penas das sciencias as armas, fez que, propondo-se
premio a primeira gallè, que tomasse terra do inimigo, voasse a sua , & o
ganhasse. Em Baçaim, a quem defendiaõ dez mil Turcos com grande com grande
copia de artilheria, & petrechos militares, dar elle a morte por sua mão ao
Capitão Turco, foy causa que trezentos Portugueses tivessem daqueles inimigos
hum glorioso vencimento. Testemunho foy de seu valor a Ilha de Beth, chamada
dos mortos, por morrerem alli à mão do Portuguezes os muytos Turcos, que nella
alojavaõ. Com sua industria se abrazaraõ
em Choromandel dous lugares, e foraõ rendidas doze Naos de turcos, que alli
andavaõ infestando a nova Christandade. Taes proezas obrou em doze anos, que
naquelas partes militou”. (Obras Varias compostas pelo Doutor João Pinto
Ribeyro, do Conselho de Sua Magestade, e Dezembargador do Paço. Parte Segunda.
Em Coimbra, Na Officina de Joseph Antunes da Sylva, M.DCCXXX,pág. 188-9).
É óbvio que os factos descritos não se
encontram na mencionada carta - que já
não vem na edição de 1606.Mas João Pinto Ribeiro tinha conhecimento dos mesmos
e sabia que Diogo de Sá havia estado doze anos na Índia e, da forma como o
refere, infere-se que terá sido num único período, isto é, que permaneceu no
Oriente doze anos consecutivos . Ora, Gaspar Correia refere que, no ano de 1517,
se encontrava na Índia “Diogo de Sá, moço da camara d’ElRey, em huma barcaça”(
Lendas da Índia, Livro II, Tomo II-Parte II,1861, pág.488). E este autor
fica-se por esta referência a Diogo de Sá, moço de câmara do rei e capitão de
uma barcaça. João de Barros, por sua vez, escreve: “ … que mandasse fazer a
fortaleza de Sunda; pelo que Lopo Vaz lhe mandou aprestar logo huma Armada de
seis vélas, de que eram dous galeões, em hum dos quais hia Francisco de Sá, e
D. Jorge Tello de Menezes no outro, e Diogo de Sá em huma galé, Antonio de Sá em
huma galeota, e Francisco Mendes de Vasconcellos em huma caravella, e Duarte
Coelho em hum bargantim” ( Quarta Decada da Asia. Madrid, MDCXV, pág. 44). E
Fernão Lopes de Castanheda também a ele
se refere nesta passagem da sua obra :” Jorge de Lima, Lionel de melo, Fernão
de lima, Diogo de sá & dom Miguel de linma que todos eraõ muy esforçados, & nesta guerra fizeraõ feytos de muy assinada valentia &
mataraõ muytos mouros”( Historia do Descobrimento e Conquista da India pelos Portugueses,
Livros V,VI,VII,VIII e IX, Lello & Irmão,1979, págf.280)
Os factos que se deixam descritos ocorreram
nos anos de 1526 e 1525. O que demonstra que Digo de Sá ainda se encontrava ao
serviço do rei na Índia. Os citados cronistas não se referem em qualquer outra
parte das suas obras a Diogo de Sá. Não será despiciendo lembrar que o
mencionado António de Sá era de Santarém e, em 1504, foi nomeado feitor de
Cochim, segundo escreve Castanheda na citada página e Francisco de Sá era do
Porto, filho do segundo João Rodrigues de Sá, alcaide-mór daquela cidade e
senhor de Matosinhos e das terras de Sever, Baltar e Paiva, segundo Diogo do
Couto - que nunca se refere a Diogo de
Sá (Decada Quarta da Asia, Pedro Crasbeeck,no Collegio de Santo Agostinho,Anno
MDCII,fól.5). Será Diogo de Sá irmão de Francisco de Sá? Ou entroncarão ambos
no primeiro João Rodrigues de Sá? Em vez de irmãos, serão primos? Os
genealogistas que se ponham em campo. Certamente, quer um quer outro, são
primos do Poeta do Neiva!
Do que parece não haver dúvidas é que
esteve doze anos na Índia, como nos informa o ilustre conjurado de 1640.Se, em
1517, era ainda moço, isso significa que deveria ter chegado à India há muito
pouco tempo. E, se andou por lá doze anos, deve ter regressado antes de 1530.
Aquele que alguns lhe apontam como pai – Fernão Eanes Sottomayor – foi na
armada de Martim Afonso de Sousa, em 1534, e com ele embarcou também Garcia
d’Orta. Com Fernão Eanes Sottomayor devem ter embarcado os dois filhos, António
de Sottomayor e Diogo Reynoso, aos quais, e nessa qualidade, se referem com
frequência, João de Barros, Gaspar Correia e Diogo do Couto. O Diogo Reynoso
morreu no dia de S. Lourenço, a 10 de Agosto de 1546, no segundo cerco de Diu,
na explosão do baluarte de S. João, em que se salvou “ dom Diogo de Souto Maior,
que voando polo ar com a força do fogo cayo dentro na fortaleza com uma lança nas
mãos por que veyo escorregando ate o chão onde ficou, sem lesão alguma” como
narra Diogo do Couto, na sua Década Sexta (Pedro Crasbeeck,1614, fól.39). Não é
de crer que o Diogo que morreu fosse irmão do Diogo que se salvou! Ou que
Fernão Eanes Sottomayor tivesse dois filhos com o nome de Diogo! Já agora
também se faz constar que o outro António de Sá, conhecido pelo Rume, de que
falam os nossos cronistas do Oriente, era moço de câmara de D. Manuel e, em
1502, na viagem para a Índia, foi armado cavaleiro pelo Almirante dom Vasco da
Gama ( João de Barros, Decada Primeira da Asia, Jorge Rodrigues, 1628,
fól.116). Por isso, quer um, quer outro, não podem ser filhos de Fernão Eanes Sottomayor,
como se pretende fazer crer. E, dada a grande diferença de idade que devia
existir entre os dois António de Sá e Diogo de Sá, tendo em conta os factos que
a seu respeito se deixam narrados, também este não era, com toda a certeza,
irmão de qualquer deles. Nem o acima referido Diogo de Souto Maior, que se
salvou no segundo cerco de Diu, pode ser o Diogo de Sá, autor dos mencionados
livros, pois que três anos após aquele grande evento bélico, estava a publicar
em Paris o” De Navigatione Libri Tres”! Aliás, quando o aludido Fernão Eanes
Sottomayor, embarca para a Índia em 1534, na armada de Martim Afonso de Sousa,
Diogo de Sá, tudo indica, já tinha regressado daquelas paragens há vários anos.
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