sábado, 25 de maio de 2013


                                             DIOGO  DE     -  II

 

 

      Há quem afirme que António de Sá – que, segundo Castanheda, era de Santarém -  era irmão de Diogo de Sá, baseando-se em Faria Y Sousa, que, no tomo primeiro da sua “ ASIA “, escreve : “ Ocasion fue esta  en que mostraron ilustre valor  Don Vasco, y Jorge, y Fernando, y Miguel de Lima; Leonel, y Ruy de Melo: y Antonio, y Diego de Sá hermanos”( Asia Portuguesa, Tomo I,

Lisboa, Henrique Valente de Oliveira,1666, pág.234). Faria Y Sousa transcreveu erradamente a passagem acima citada da Década Terceira de João de Barros. Não é Diogo de Sá que é irmão de António de Sá, é Rui de Mello, como, aliás, Faria y Sousa refere noutras situações, e resulta das transcrições acima feitas,

quer de João de Barros, quer de Fernão Lopes de Castanheda. Mas, para que não

            restem dúvidas de interpretação do citado texto de João de Barros, transcreve-se    da mesma Década o que se segue : “ Dom João neste tempo tinha repartido a guarda da fortaleza em estancias, de que estes erão as principaes pessoas, dom Vasco de Lima, Jorge de Lima, Rui de Mello, Antonio de Sá seu irmão, João Rabello feitor, Duarte de Faria & Antonio de Serpa..”( ob. cit. fól.239).  O Rui de Mello, em Setembro de 1558, vivia em Cananor, casado com uma filha deDuarte Barbosa e o António de Sá, em 1559, ainda era capitão de uma galeota ( Diogo do Couto, Decada Setima da Asia, Pedro Crasbeeck,1616, fól.102 e 106,respectivamente).

        Simão Botelho, vedor da Fazenda da Índia, em carta a D. João III, datada de Baçaim, de 24 de Dezembro de 1548, escreve que “ este Antonio de Sá é filho de um clérigo do Porto e de uma freira, e matou já um homem à traição, e há poucos dias que matou aqui um negro da terra, sem se fazer justiça dele, e

vive nesta terra à sua vontade com uma aldeia que lhe aforou António Rodrigues de Gamboa por duzentos pardaus, e ela rende perto de mil pardaus: escrevo isto a Vossa Alteza para que saiba os trabalhos com que o servem nestas partes seus oficiais”( Textos sobre o Estado da Índia, Publicações Alfa, pág.42) .

     Gaspar Correia alude a duas pessoas com o nome de António de Sá :   Estando n’estas cousas , n’esta noyte entraraõ  dous catures que de Baçaim mandou Gracia de Sá: em hum Antonio de Sá, o Rume d’alcunha; e no outro Antonio de Sá, ambos sobrinhos  de Gracia de Sá”. ( obr. cit. Tomo IV,parte I, pág.51). Um deles é filho de Francisco de Sá e morre em consequência dos ferimentos sofridos no cerco de Diu ( Segundo Cerco de Diu, obra publicada e prefaciada por António Baião, 1927,pág. 100). O que tem alcunha de rume será  o que em 1559 ainda era vivo, segundo Diogo do Couto e será o que vem referido na carta citada de Simão Botelho e terá sido “filho de um clérigo do Porto e de uma freira”? O que significaria  que, ou clérigo ou a freira, um deles era irmão do capitão Francisco de Sá e de Garcia de Sá -  que depois foi governador da Índia 1548-1549 -, que são filhos do acima referido “ segundo “ João Rodrigues de Sá (João de Barros.,Década Terceira, Jorge Rodriguez,1628, fól. 53). Sendo Fernão Eanes de Soutomaior o capitão de Cananor, os cronistas,

          assim como referem que Diogo Reinoso, Francisco Reinoso e Antonio de Souto

         Maior são  filhos daquele capitão, também diriam que António de Sá, conhecido pelo rume, também era seu filho, o que não acontece. O mesmo se passa com o Diogo de Soutomaior, que escapa ileso no cerco de Diu e que em1550 ainda se encontrava em terras do Oriente, como acima se demonstrou. Por isso, não devem restar dúvidas de que o Diogo de Sá, que andou pelo Oriente, entre 1515 e 1527, não é filho de Fernão ou Fernando Eanes de Soutomayor, nem é o mencionado Diogo de Soutomayor do segundo cerco de Diu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

       João Paulo Oliveira e Costa escreve que “ os irmãos António de Sá ( o Rume), Henrique de Sá e Rui de Melo eram filhos de Gomes de Sá e de Teresa de Lima ( Mare Nostrum, Temas e Debates,2013,pág. 456) . Assim sendo, o António de Sá, de que fala Simão Botelho na sua carta, não pode ser o António de Sá ( o Rume) cujo filho, Henrique de Sá, foi capitão das Molucas ( 1562-1564).

Já agora acrescenta-se que, para além daqueles três filhos, Diogo de Reynoso, Francisco de Reynoso e António de Soutomayor, Fernando Eanes de Soutomayor teve, pelo menos, mais um, com o nome de Luis de Sottomayor, que foi frade dominicano, lente de Sagrada Escritura em Coimbra e delegado ao concílio de Trento, falecido em 1610. O qual nascera em Lisboa, em 1526, filho daquele capitão de Cananor e de Mayor Diaz de Aguiar, filha de André Diaz de Aguiar Botafogo, Adail de Tânger, e neto de Gomes Ferreira, porteiro mor de D. João II e de D. Manuel, casado com D. Mayor de Sottomayor, filha de D. Pedro Alvares de Sottomayor, conde de Caminha ( Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, Vol. III, pág.139).

 

António Pais - autor da carta inserta na obra “ De Primogenitura”, impressa em Paris em 1551, acima transcrita - refere que Diogo de Sá era um cavaleiro verdadeiramente nobre, oriundo da uma antiga e nobre família, e que a sua fama de matemático, teólogo e jurista tinha precedido a sua pessoa. E acrescenta “ com os teus livros agora publicados facilmente poderei demonstrá-lo- haec enim ex tuis libris in lucem editis de te coniicere poteram” .Daqui é legítimo inferir que a sua formação académica

      foi adquirida antes de 1549, data da publicação da primeira obra. E a mesma conclusão ressalta do que a seguir se transcreve : “ Na ordem dos Mathematicos estão o Sabio Pedro Nunes, Diogo de Sá, Francisco de Mello, e Fr. Lucas de quem faz esta memoria em sua Arithemetica Gaspar Nicoláo,fol.LIV da terceira impressão em 1551” ( Francisco Leitão Ferreira, Notícias Chronologicas da Universidade de Coimbra, Segunda Parte, Vol. I, Coimbra,1938, pág.368). No entanto, não é conhecido qualquer documento que demonstre, sem margem para dúvidas, a sua passagem por qualquer estabelecimento de ensino, tanto em Portugal como no estrangeiro. O que não significa que o não tenha feito. Fê-lo, com toda a certeza, mas depois de ter regressado do Oriente.

          Se em 1517, é tratado por moço de câmara do rei, é legítimo concluir que Diogo de Sá deve ter nascido nos primeiros anos de quinhentos, embora desconheçamos o ano e os seus progenitores. Quanto a estes, o autor da mencionada carta di-lo oriundo de uma nobre e antiga família. O que é confirmado por António Caetano de Sousa, quando escreve: “ A Varonia desta Casa he Sá , antiga neste Reyno… Delle achamos muitos fidalgos mais antigos, que Payo de Sá, que viveo pelos annos de 1300, reynando D. Diniz: porem nelle começaõ os Genealogicos a deduzir esta família, fazendo o tronco dos deste appellido. Delle foy segundo Neto João Rodrigues de Sá, conhecido pelo nome das Galés, Senhor de Sever, etc, .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Alcaide Mór do Porto, e Camareiro Mór de ElRey D. João I, casou com Dona Isabel Pacheco, filha de Diogo Lopes Pacheco, Senhor de Ferreira de Aves” ( Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal, Antonio Isidoro da Fonseca, M. DCC.XLII, páG. 42-3). Este Joáo Rodrigues de Sá será o antepassado do “segundo João Rodrigues de Sá, como lhe chama João de Barros, que casou com D. Joana de Albuquerque, pai dos mencionados Garcia de Sá, Francisco de Sá e também de Brites de Albuquerque, que casou com Lopo de Sousa, pais do já mencionado e celebre Martim Afonso de Sousa ( António Caetano de Sousa, Serie dos Reys de Portugal,Ofiicina Sylviana, M.DCC.XLIII, pág.147). Por isso, tudo leva a crer que Diogo de Sá também entroncará naquele ramo e, por conseguinte, será parente daqueles célebres capitães, que se notabilizaram no Oriente, tendo sido dois deles governadores da Índia, embora, primeiro o sobrinho- Martim Afonso de Sousa  - e, depois, o tio - Garcia de Sá. E mais não sabemos, no que respeita às suas origens.

      Diogo de Sá foi moço de câmara do rei Venturoso. De onde se infere que, antes de embarcar para o Oriente, vivia na corte. Onde deve ter convivido com Damião de Góis. Pois, este, em 1511, já lá se encontrava e lá viveu durante dez anos. Nesses tempos ainda vivia na corte Cataldo Sículo, que D. João II havia convidado para instruir o seu filho bastardo D. Jorge. Por isso, faz todo o sentido pensar que Diogo de Sá também foi instruído por aquele humanista, juntamente

            com Damião de Góis e os demais moços da corte. Entusiasmado com os relatos

           que chegavam à corte, dos feitos de Afonso de Albuquerque e empolgado com

as novas do embaixador Mateus do Preste João, chegado em 1514, Diogo de Sá decide embarcar para a Índia e, possivelmente, deve ter ido na armada que levava o sucessor do seu herói e que largou do Tejo a 7 de Abril de 1515.

     Como acima se deixou dito, a última referência dos cronistas da Índia a Diogo de Sá situa-se no ano de 1526. É possível que o ambiente de guerra entre facções, que se seguiu à morte do governador D. Henrique de Menezes- 1524-1526-, o tenha desencorajado a continuar do Oriente e tenha regressado ao reino.

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